Em busca de Saramago e dos “seus heterónimos"

Estávamos no autocarro, onde havia alguma agitação desde cedo. À medida que o destino - uma visita literária a Lisboa - se ia aproximando, as paisagens e o tempo iam-se alterando, até que, por fim, o local prometido foi alcançado. Com o alívio de termos chegado, veio a oportunidade de explorar a Fundação José Saramago.

No passeio por Lisboa, enriquecemos o nosso conhecimento com a realização de uma viagem pelos pontos importantes da obra O ano da morte de Ricardo Reis. Ao longo da caminhada, conseguimos comparar os sítios que imaginamos (ao ler o romance) com a realidade dos mesmos. Uma das impressões que permaneceu no nosso pensamento foi o verdadeiro local da casa de Ricardo Reis que, curiosamente, correspondia à ideia com que tínhamos ficado do Alto de Santa Catarina. Despertou-nos os sentidos a imensidão e beleza natural do Tejo em harmonia com a civilização construída nas suas margens, por onde íamos passando. Em cada momento da longa caminhada conseguimos imaginar a vida daqueles que fazem parte da obra de Saramago. O ano da morte de Ricardo Reis ia acontecendo naquelas ruas, começando numa oliveira, passando pela Praça do Comércio, pelas estátuas de Eça e de Camões, pelas ruas íngremes e parando no miradouro de Santa Catarina. Dali, quase vislumbrávamos um “Reis in Rio”. Contudo, à medida que percorríamos a cidade, íamos ficando com a sensação de que os caminhos não passavam de uma Babilónia portuguesa.

Fomos acompanhados pelo bom tempo até chegarmos a Belém. À hora do almoço, tivemos tempo para conviver com os nossos amigos enquanto partilhávamos o que tínhamos trazido para comer tal como o delicioso bolo de espinafres confecionado pela mãe da Elisabete. Pudemos recarregar energias e relaxar um bocado enquanto o sol nos aquecia. Comemos sandes, pizza e bolinhos de bacalhau. Rimos. Visitamos novos lugares - o mosteiro dos Jerónimos - e deslumbramo-nos. Aprendemos que, para ser grande, é preciso ser inteiro. Sentimos a Poesia e Lisboa em sintonia.

E, de repente, estávamos de volta ao calor do transporte que nos ia levar de volta a casa, ao seu barulho, ao trânsito da autoestrada e aos anúncios do Spotify que formavam uma harmonia perturbadora, lembrando que Mestre, não são plácidas todas as horas passadas na camioneta.



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