O que ficou depois de dois anos de Filosofia
Dia Mundial da Filosofia
Enquanto componente da formação geral de todos os cursos científico-humanísticos do ensino secundário, a disciplina de Filosofia deve ser considerada como atividade intelectual na qual os problemas, conceitos e teorias filosóficas são a base do desenvolvimento de um pensamento autónomo, consciente das suas estruturas lógicas e cognitivas, e capaz de mobilizar o conhecimento filosófico para uma leitura crítica da realidade e o fundamento sólido da ação individual e na sua relação com os outros humanos e não humanos.
Aprendizagens Essenciais da disciplina de Filosofia
O que ficou depois de dois anos de Filosofia
Testemunhos de alunos do 11º ano da Escola Secundária de Ermesinde, no ano letivo 2018/2019
No início do 10º ano não tinha a melhor visão da disciplina de Filosofia. Mas depois de me integrar no curso e de me adaptar ao secundário, percebi que essas aulas onde discutíamos sobre vários problemas muito complicados de responder (como o determinismo ou a ética), que esses tempos eram os únicos onde o mundo abrandava completamente. No meio de todas as outras disciplinas, no meio da adolescência em si, e da transição da nossa fase criança para adulta (a acontecer demasiado rápido), as aulas de Filosofia eram as únicas onde eu me podia sentar, adquirir novos conhecimentos sobre problemas que nem sabia que existiam e simplesmente parar para pensar.
Ao longo deste tempo, a minha opinião acerca da filosofia foi evoluindo (…) O interesse foi aumentando à medida que me fui apercebendo da importância quer de alguns temas abordados, quer de os abordar para desenvolver a nossa capacidade de pensar mais “profundamente”, ir além do que é comum, parar para pensar no dia a dia.
Isto não só nos ajuda a tomar consciência em relação a muitos dos nossos atos, como desenvolve o nosso sentido crítico, a nossa capacidade de questionar e analisar de forma racional determinados assuntos, para não nos limitarmos a ser conformistas, a ser alguém que aceita tudo sem pensar. A tentativa de manipulação de pessoas para estas aceitarem, sem questionar ou procurar a verdade, o que lhes for imposto, por parte da política, da religião ou de meios de comunicação, torna-se assim menos eficaz para alguém com sentido crítico desenvolvido.
No início do ano letivo 2017/2018, (…) de amigos mais velhos, chegavam-me diversas opiniões sobre a disciplina de Filosofia. Uns diziam-me “é uma grande seca, não serve para nada,” e outros “ é a melhor disciplina do secundário”. Mas, então, que disciplina era esta que podia causar tanta divergência de ideias e de interesses?(…) Não sabia em quem acreditar e não sabia o que esperar da Filosofia.(…) Com o decorrer do tempo fui começando a ganhar um certo gosto pela escrita e pela reflexão sobre aquilo que nos rodeia. (…) As aulas não eram “aulas”, os testes não eram “testes”, as avaliações não eram “avaliações”. Tudo o que se passava dentro daquelas quatro paredes era basicamente seres humanos a refletirem sobre o porquê de existirem, sobre o porquê de o mundo ser assim… sobre o porquê das suas acções. (…)Aos poucos ia entendendo o porquê de tanta divergência. Apercebia-me que as opiniões eram geradas não pela maneira como achavam a disciplina, mas da maneira como a observavam. Pessoas sem vontade, sem espírito crítico, que se satisfazem com um “porque sim”, tinham uma opinião totalmente diferente da que eu começava a ter (…) Como é possível que alguém não tenha vontade de parar e pensar sobre o que nos rodeia? E mais grave, que pessoas serão estas? no que se tornarão? Pessoas sem espírito crítico, nem vontade de discutir problemas da sociedade.
No início do 10º ano pensei que a Filosofia era só mais uma disciplina sem qualquer tipo de interesse e importância na minha vida, contudo a minha opinião mudou drasticamente. (…) Graças à Filosofia tornei-me uma pessoa mais atenta aos problemas do mundo.
Foi em Filosofia que desenvolvi imenso a minha capacidade crítica e de reflexão (…) Foi quando comecei a estudar Filosofia que realmente comecei a pensar e a observar o mundo que me rodeia. Penso que foi uma das mais importantes descobertas que fiz, a descoberta de que era capaz de refletir, debater, argumentar.
As aulas de Filosofia foram um dos únicos locais onde tive a oportunidade de refletir sem medo de errar e sem medo de dizer o que penso verdadeiramente, de descobrir mais sobre o mundo, e acima de tudo, descobrir mais sobre mim mesmo. (…)
O que para mim não faz sentido nenhum é as pessoas terem tempo e oportunidade de se educarem sobre os assuntos importantes que as rodeiam, de refletirem, mas escolherem não o fazer e dar prioridade a coisas fúteis da vida.(…) Tenho medo de no futuro me tornar uma pessoa fútil, passiva perante os acontecimentos e facilmente manipulável.
Um acontecimento que me abalou recentemente foi a abstenção nas eleições europeias e acho que isto está muito ligado com a importância da Filosofia. Isto porque da mesma maneira que “um povo que dorme em democracia corre o risco de acordar em ditadura”, uma pessoa que não se interessa por refletir sobre os assuntos tão complexos e importantes que a Filosofia trata é facilmente manipulada.
MJC
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